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É preciso ter talento ou predisposição natural para meditar?  

              As práticas de consciência plena (ou de mindfulness), dentre elas a meditação, podem ajudar a melhorar a nossa percepção de si mesmo e do todo. Beneficia nos ensinando a ser mais receptivos e menos hostis às circunstâncias do dia a dia. Mesmo diante de situações difíceis sempre podemos abrir espaço para decisões mais inteligentes, inclusivas e solidárias, e melhorar a qualidade das nossas ações ou decisões.

              Mas para isso precisamos nos esforçar visando aprender a nos tornar mais vigilantes e conscientes de nosso atos.

              Posso te dizer uma coisa boa e outra desafiadora?

               As práticas realmente são simples. Porém, como existe muita coisa a ser trabalhada (tem conteúdo para uma vida inteira), não são fáceis de serem sustentadas pela mera força de vontade.

              Como válido para tudo o que empreendemos, se almejamos ser pessoas melhores para nós mesmos e para os outros, é preciso empenho; colocar-se em ação com intenção, esforço, persistência e confiança.

              Como em todo processo de desenvolvimento a psicóloga Angela Duckworth no livro “Garra: o poder da paixão e da perseverança” ressaltou a importância de desenvolvermos garra – uma combinação de paixão e perseverança – para sermos bem-sucedidos naquilo que escolhemos ser ou fazer.

              Suas pesquisas mostram que, para sermos bem-sucedidos numa área ou atividade, o talento (a rapidez com que as habilidades de uma pessoas aumentam quando ela se esforça) não é fator determinante. Quer dizer, talento não é sinônimo e nem garantia de sucesso.

              O fator determinante para alcançarmos de fato o êxito ou o sucesso no que empreendemos é o nosso esforço: treino focado e com orientação. É preciso treinar e treinar!

              Logo, o êxito que pretendemos alcançar depende menos do talento e mais do esforço que colocamos no desenvolvimento de novas habilidades.

              Duckworth resumiu os achados de suas pesquisas na seguinte fórmula:

 

Êxito = Habilidade x Esforço, em que Habilidade = Talento x Esforço.

 

              Vendo essa fórmula talvez você pense: - Mas o talento também é importante, olha ele ali!

              Sim, ele pode até ser!

              Porém, observe que o esforço entra duas vezes multiplicando dentro fórmula, mostrando que o talento, apesar de importante, não é determinante para obtermos êxito. Veja novamente a fórmula desenvolvida:

 

Êxito = Habilidade x Esforço = (Talento X Esforço) x Esforço

Êxito = Talento X Esforço².

 

              Em resumo, se acharmos que não temos talento ou predisposição natural para algo, é bom saber que o nosso esforço deliberado nos ajuda muito mais a superar essa falta quando decidimos nos dedicar a algo que entendemos ser relevante para nós.

                Trouxe aqui esse tema porque tenho escutado de diversas pessoas (em palestras que ministrei e em conversas com colegas e amigos) a afirmação de que eles não têm talento para meditar ou praticar qualquer atividade que envolva mindfulness. Afirmam que são tão dispersas ou ansiosas que não conseguem parar um minuto sequer. Acreditam que meditar é para quem já é calmo e tem predisposição natural para isso.

              Posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que essas concepções não são corretas.

              Até posso ser considerado um exemplo dessa “falta de talento”.

              A situação engraçada que ilustra isso é a de amigos virem falar comigo hoje dizendo que eu sou o meu próprio marketing. Como assim? Eles comentam que há algum tempo têm me percebido mais centrado e calmo. Por que será?

              Pois bem, eu era bem explosivo, reclamão e impulsivo. Posso até dizer que ainda sou, mas, bem ... bem menos. E isso por si já faz uma grande diferença!

              E com o tempo, decorrente da prática diária, podemos até mesmo mudar completamente essa forma de agir.

              Ah, e há outros que ainda complementam: “Se funcionou contigo é porque pode funcionar com qualquer um. Você era um caso perdido, né?“ e, na sequência, vem aquela gargalhada.

              Então, é por isso que também acredito ser possível para você!

              Você não precisa ter talento para fazer algo! Precisa é de esforço focado ou deliberado para obter êxito em qualquer coisa que almeje.

              E é disso que se precisa para meditar e desenvolver mindfulness: ler um pouco, praticar e praticar com uma boa orientação. Esses ensinamentos, no início, podem ser adquiridos em bons livros ou assistindo a vídeos no YouTube ou a palestras do TED, por exemplos. Porém, vai chegar o momento em que a presença de um bom professor será fundamental para avançar.

              Você saberá identificar o momento. Não se preocupe.

              A parte mais difícil mesmo é manter esse novo hábito, manter a constância. Praticar e ter motivação ou paixão para perseverar (garra) são fundamentais.

              Só você pode praticar por si mesmo. A disciplina é você quem pode desenvolver. O que você faz diariamente é o que importa. Por isso é importante começar aos poucos, construindo o hábito diário de meditar, por 1 a 3 minutos diários, uma a três vezes ao dia, e ir aumentando gradativamente até alcançar 15, 20 ou 30 minutos diários. O tempo e a constância crescem na medida em que você mesmo ganha confiança no processo, sente que vale a pena o bem-estar propiciado pela prática e se desafia a ir um pouco mais além.

              Para ajudar a fortalecer a motivação para esse processo podemos escolher como propósito (ou paixão) nos tornar pessoas melhores para nós mesmos e para os outros; aprender a viver uma vida mais leve e plena, menos hostil e mais inclusiva; ou, ainda, aprender a melhorar a qualidade das nossas decisões pessoais e profissionais. Essas intenções por si sós refletem grandes propósitos.

              Uma ressalva. O processo aqui é sempre mais importante do que o resultado. O resultado virá, sem dúvidas! Mas não se pode nem se deve colocar o carro na frente dos bois. Um dia de cada vez. E toda experiência interna durante o momento de silêncio é diferente, mesmo ocorrendo no mesmo lugar e nas mesmas condições ambientais.

              Uma das coisa mais legais da prática, portanto, é perceber esse processo de contínua mudança ocorrendo dentro de nós e notar que tudo, de fato, passa.

              Atenção! Ouvir falar é uma coisa, perceber de forma visceral é incorporar a fala à ação. E só após esse novo passo que tudo muda!

              Dentro de nós, coisas (planos, objetivos, sensações, dúvidas, medos, expectativas etc.) nascem, morrem e renascem dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo. O pulo do gato, para ser mais direto, ocorre quando sentimos isso tanto durante a prática de sentar-se em silêncio por alguns minutos quanto no desenrolar das nossas ações no dia a dia. E essa integração ocorrerá naturalmente.

              Viver o processo é tão rejuvenescedor que na medida em que vamos transformando a percepção de si mesmo, o outro nem sempre precisa mudar, porque a prática nos ajuda a vê-lo de outra forma. E ele muda sem precisar mudar! Esse é um dos sentidos mais belos da prática.

              Se temos paixão e perseverança, qualquer coisa é possível. Se não temos ainda, procurar conhecer e se envolver com algo que nos interesse pode nos levar a isso. E aprender a meditar visando melhorar a sua concentração, o seu foco e bem-estar também é possível.

              Portanto, meditar e desenvolver mindfulness ou consciência plena do momento presente é possível. Só precisamos começar e não parar. É um bom hábito e valerá a pena integrá-lo à sua vida porque leveza, serenidade, tranquilidade, paz de espírito e felicidade são necessidades que todos buscamos. E você também poderá encontrar isso dentro de você!

 

Referência

DUCKWORTH, Angela. Garra: o poder da paixão e da perseverança. Rio de janeiro: Intrínseca, 2016.

 

Sugestão de leitura complementar sobre talento

ERICSSON, Anders; POOL, Robert. Direto ao Ponto: Os segredos da nova ciência da expertise. Belo Horizonte: Gutenberg, 2017.

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